Chegou menina
sem saber que era mulher. Saia de corte reto com salto estratégico. Seus olhos
assustados esboçavam o medo do conhecimento: não sabia ao certo em qual padrão
encaixar-se. Afinal, sua aspiração leonina era ser bem aceita, não por status,
mas por gosto, vontade de não ser mais ofuscada.
Desde a infância
seu corpo foi invadido, seja por símbolos ou pelo peso da mão torpe de um homem
que supostamente deveria cuidá-la. Em sua casa era uma espécie de pai, mãe e
madrasta – todos os problemas eram resolvidos por suas mãos desde comprar o gás
até amenizar as dores das palavras árduas de seus pais. A garrafa de cachaça
presente com o hálito mesclado a estômago vazio.
Vivia contando
moedas quando não para o lanche para a máquina de xerox: a necessidade de expansão
mental a tiraria dessa tarefa condicionada, mas não escolhida.
Algumas confusões
invadiam sua cabeça: não sabia ao certo em que e em quem acreditar, mas como
hábito não parava – na sua concepção quem amortece é fracassada.
Quando notou que
era mulher seu relacionamento terminou, doava e não recebia o mesmo – sempre ofertando
seu barco a mares tempestuosos.
O curso das
horas seria modificado, não apenas pela percepção de gênero e sim através do
estudo e escrita da História – no futuro seu desejo de ser uma mulher iluminada
será tempestuoso, no entanto, concluído.
Sua beleza é
singular. Seus cabelos vermelhos sintonizam com sua cor doce de leite, presença
notável, opinião forte, aventureira. Mulher.
Renasceu. Reviveu.
Resignificou. É mestra. Mulher. Menina. Amiga. Companheira. Amor. Dor. Conflito.
Seus pensamentos
de fracasso são meros devaneios que brincam com as luzes tortuosas do acaso.
Porque é mulher
desde menina.
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