Ansiosa por natureza, unhas roídas e cutículas feridas retratavam
a pressa. Tinha dificuldade em engolir a comida, pois já pensava no próximo
gesto calculado com seu olhar de altivez.
Os sonhos tão significativos na terapia Freudiana, agora não
tinham mais sentido. Há anos buscava alguma CID para pertencer. Decidiu viver o
aqui e o agora – não havia motivos para ruminar tanto, essa coisa do silêncio
no divã causava incômodo. Desde estão, os sonhos transformaram-se em meros
devaneios do acaso.
Decidia muitas coisas chapada. Sua maior frustração era
sentir o cheiro e gosto da erva a caminho do trabalho – seu passatempo
preferido era fumar erva e escrever. Alguns dias de glória tirava a roupa
depois da fumaça virar neblina e dançava como se alguém a visse.
Uma garrafa de vinho nunca é má ideia, aliás, melhor
casamento sem possibilidades de divórcio. Amor eterno.
Beberia todos os dias, mas com cautela lembrava das palavras
do Caboclo:
-Nem tudo o que desejamos é o que necessitamos.
As palavras significavam muito, talvez mais que os sonhos.
Havia tomado a decisão de sincronizar seus atos com suas
palavras.
Abandonara a ideia de sincronizar sexo com amor.
Adormecia pensando em seus beijos. Mentira. Desde a primeira
vez que conversaram tinha curiosidade por saber qual expressão presenteava seus
traços ao despertar. Romântica alucinógena.
Odiava seus vizinhos. O canto artificial dos pássaros fodia
sua cabeça, não conseguia entender a necessidade de prender animais.
Decidida a não brigar, apenas por grandes feitos. Ignorava os
gritos, afinal no capitalismo é preciso preservar a integridade moral.
À espera do ônibus sentiu o asfalto respirar. Essa impressão
funcionava como alavanca: confundia realidade com fantasia. Mesclava situações com
vontades.
Essa noite sonhou que o amava.
Ele visitou seus sonhos porque antes do sono chegar, pensava
em seus lábios.
O sonho causou explosões.
A primeira explodia o controle de seus sentimentos.
A segunda era uma espécie de um novo conceito de amor –
sabia que o amava, mas o tempo era escasso a ambos. Estava aprendendo a dosar a
lentidão veloz.
A terceira e última pode perceber que seu sonho mesclava a
realidade, pois essa sensação já foi criada, esse sentimento tombado e seu coração
sempre assaltado em chamas descansava de sua loucura. Era um aprendizado,
questionar-se sobre o que é amar e o que é o amor.
Resignificando pensava no poeta:
O amor é um pássaro de livre pouso.
A felicidade são momentos dosados no aqui e no agora.
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