domingo, 30 de julho de 2017

reflexões pontuais e meio digeridas

O aço frio do metrô.
A saída com várias opções.
A linha verde.
Reencontro silencioso.

Será que em algum espaço da sua memória ele lembra daquela tarde?
Pode ser que sim, pode ser que não.

Eu me lembro. De todas as pessoas que lá estavam, inclusive suas expressões. É difícil conciliar a vida com as memórias afetivas - nesse caso o clássico ato já me é certeiro:

Uma taça estrategicamente posicionada em sua mesa cheia até a metade com o vinho encorpado.

-Qual será sua uva favorita?


Não sei. Tão pouco tenho coragem de adivinhar.

As perguntas são óbvias, ou nem tanto.

O tempo de mudança e resposta oscila - diz ele.

A memória do mundo sempre foi dominada pelo poder.

Reflexões meio óbvias pra quem estuda a memória há algum tempo.

Me interessava mesmo era pelo outro diálogo, quando escutei Benjamin, meu coração ardeu em chamas. Ainda tenho essa sensação de frio na barriga quando alguém cita meu autor favorito, é muito forte. Ele me ensinou muito sobre a memória, sobre o conceito de História.


O conforto silencioso de escutar e escrever, anotar, refletir, preencher meus neurônios com algo que faz meu coração pulsar.

(...)

"O vinho, diferente da cerveja é degustado com uma lentidão veloz."

O prazer do corpo do vinho se transforma em libertação e auto determinação.


Caminhar sem direção.
Aprender a pertencer.
Decisão clara e precisa.
Abandonar-se para vagar.

Subjetividade.


(...)

A quem ofertar as linhas?


sexta-feira, 28 de julho de 2017

azul cor de mar





Olhos cor de mar
Que recordam o infinito
Assim como as possibilidades
Beira o abismo
Entre acreditar ou duvidar no concreto ou abstrato
De gostos peculiares e pensamento ímpar
Seu desejo de compartilhar passa pela sua sensibilidade
Do incomodo
Em achar que seus pensamentos são apenas devaneios
Engano. 
Seus pensamentos são como labaredas e onde há luz
Há probabilidades.

(...)

"De acordo com o professor Schianberg, não é possível determinar o momento exato em que uma pessoa se apaixona. Se fosse, ele afirma, bastaria um termômetro para comprovar sua teoria de que, nesse instante, a temperatura corporal se eleva vários graus. Uma febre, nossa única sequela divina. Schianberg diz mais: ao se apaixonar, um "homem de sangue quente" experimenta o desamparo de sentir-se vulnerável. Ele não caçou; foi caçado."


p. 15

Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. 

quinta-feira, 27 de julho de 2017

noite, maré tranquila

senti mil estilhaços
desconforto do acaso
não, não consigo confiar
entregar fora desse abismo
não preciso de ninguém pra ser quem sou
afinal, homens são meras inspirações poéticas, sujas

acasos

destruições e contra fatos
não, eu não preciso de ninguém pra me auto afirmar
pra alma andar de par em par
porque não acredito na alma gêmea

sou apenas
mais uma história daquelas aspirantes
no meu catálogo de amantes

sou mulher
menina

quando na verdade meu desejo já está firmado
estar acompanhada
apenas por mim
estou
não sou
apenas solitária
não
estou acompanhada
pelos meus desejos mais profundos
que jamais serão revelados.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

é noite, maré brava

É noite em seu coração
não aquela noite singela, quieta

é noite turbulenta, desconfiada
maré brava

tenta sufocar seus desejos amortecendo seu paladar
na garrafa quase vazia

tudo porque é noite turbulenta, maré brava

coração machucado
quarto interno desorganizado
todo esculachado

é noite, maré brava
dolorosa

seu barco quase virou naquela tentativa de sobreviver

é noite, maré brava
sua memória a acusou de sempre seguir o curso natural dos mares
de ofertar tudo ou nada

é noite, maré brava

ela está sentada, a garrafa terminada e a luz reflete o vazio dos ares

é noite, maré brava
não siga de novo os barcos ocos, seu barco já foi ofertado
demasiado

é noite, maré brava

despercebida passa
com olhar de desgraça
cheia de marra

tudo porque é noite, maré brava
densa, pesada, intensa e calculada.

terça-feira, 25 de julho de 2017

carmenere

te olhei sentado tão confortável no chão semigelado
sua comodidade em tirar o tênis enquanto eu abria a garrafa me é notável
não sei expressar vontades, sentimentos na fala, mas meu coração está em chamas.

senti ser sincero teu olhar tão sério.

seu sorriso pouco aparece
quando noto já é noite em mim
e em você
e exploramos o mistério dos cheiros

esse sentido intocável que na verdade é só aparência porque no plano detalhe é que mora a serenidade
a tranquilidade das horas que voam quando sentimos

já é madrugada aqui.

sábado, 15 de julho de 2017

sol azul de inverno

pude notar o breve detalhe do acaso
daquele fio de cabelo distinto, singular tombado em minha cama tão habitual

depois de dormir um sono tranquilo e leve, daqueles solitários, mas na memória a presença de dois corpos colados

houve um tempo em que acreditei controlar meus desejos, reprimir minhas vontades

esse tempo foi descartado junto ao idealismo de transformar o acaso em peso
a ausência em fracasso
a individualidade em descaso.

o depois como algo triste não existe
apenas insiste em transformar o cotidiano de cenas carregadas de poesia, miradas e beijos
ofertados
ao esboço do presente.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

e da leveza vem o peso e o peso se faz leveza

me pareço.
sou. ou não estou.
como um jogo de palavras embaralhadas distraídas pela fumaça verde reluzente que transforma o rio na corrente em direção ao homem fumando cigarro na janela cinza.
ele não quer sentir a dor da ausência e afoga seus sentidos em um copo americano amarelado com bitucas frias.
aquele prédio distante das visões estereotipadas....
a mulher reprimida que não esboça una sonrisa
seus olhos abertos não são atenciosos e sim pretensiosos.
eles pretendem sugar sua energia e alegria alimentando-se de sua monotonia.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

reflexão noturna inacabada

a história que transita o tempo, habita o espaço do movimento
dos sentidos, ouvidos e gemidos.
a memória afetiva que faz relembrar a neblina compartilhada na esquina
a gentileza ofertada no olhar de quem não consegue se expressar
a espera do ônibus, metrô, fila, escada, calçada (...)
o espaço e o tempo não tem movimento, pois a memória foi morta junto aos argumentos infundados de seres não humanos que definham, rastejam por dinheiro, corroem o mar inteiro
destroem o curso natural dos rios
transforma os desejos em apatia
a harmonia em rotina
e as plantas em monotonia.

domingo, 9 de julho de 2017

Uma flor para Juliana


Existem pessoas que cruzam nosso caminho sem pretensão, só para desfazer a ideia da rotina tão batida.
Há quem a julgue pela ausência das palavras, engana-se quem pensa assim – essa pessoa condiz seus atos com suas palavras.
De palavras árduas e realidades distintas, os caminhos se encontram na repetição histórica: não há saída.
A diferença dessas linhas é que sim, há uma saída. Sempre há.
A saída estratégica para a liberdade onde aquela garrafa vazia tragada pela desordem, no final do último gole, disse que sim, havia saída.
A saída estratégica são sorrisos, momentos, a memória afetiva que busca sentido naquela panela quentinha avisando que a comida está pronta.
Ela não precisa de rótulos, sinais e situações óbvias: suas mãos já conhecem o contorno da desgraça transformada em graça.
A injustiça dói mais que uma mensagem não respondida.
A hipocrisia a machuca mais que um simples não.
Isso porque ela não precisa de desculpas aparentes, pois sua gentileza é ofertada a quem quiser captar seu olhar profundo que beira o mar.


terça-feira, 4 de julho de 2017

llamas al viento

poucos abraços são mais significativos que palavras
assim como a imagem que penetra nas retinas causando experiências sensoriais
a chispa invisível nunca se apaga, onde há fogo, há possibilidade de fumaça
paisagens montanhosas, declives esverdeados tão profundo quanto esses abraços
onde a chama da reciprocidade reacende sem obrigação aparente
e a gentileza ofertada em olhares transformam o silêncio tão confortável em nuvens de fogo e desejos de infinitas possibilidades.