sexta-feira, 30 de agosto de 2013

o incômodo da existência

O bairro distante demonstra a memória e cultura local representada pelos indivíduos que lá habitam. A escola em arcos sujos pela fuligem dos carros somada ao verde-morno compõe o cenário institucional – a velha estrutura: o poder coercitivo e punitivo exercido pela hierarquia burocrática. O preconceito cotidiano não incomoda a gestão, os modos, limites e respeito ao próximo não compõem o quadro educacional daquele local. O tratamento unificado é desprezado, a voz do oprimido torna-se opressiva, ser educador tornou-se um fardo.  Sem luz, define a palavra aluno. Aquele garoto carregado de conceitos massificados direciona a ofensa no mais fraco possível – não apenas pela cor de sua pele, mas pela euforia típica da adolescência. A violência entendida como “normal” não atinge a dimensão de: Estou invadindo seu corpo. Os alunos se esmurram, caem em si, desmaiam. A coisa está fora do controle, afinal, o agressor tornou-se vítima. Não há imparcialidade e linearidade, o mundo se transforma através da destruição – eles não compreender a estrutura e modelo daquele local, tão pouco conseguem entender o sentido do “camburão” presente na escola. A repressão presente nas entrelinhas, a seleção, a classificação, os direitos exercidos pelos que podem mais, e os deveres isolados.

Eles não têm voz ativa, eles são vitimas do capital – instrumento de manipulação ideológica, coisificação. A convenção social faz mais sentido que a transformação. A superficialidade supera a ação direta – o discurso empobrecido e carregado de violência demonstra o vácuo de poder naquela instituição de ensino, onde a apatia escorre das paredes. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

a inquietação de não se enquadrar em nenhum padrão

Inclinou-se como um galho envergado na natureza morta, sua concepção de vida já não fazia muito sentido na caminhada que escolhera. Seus olhos pesados refletiam a tristeza tardia do velho jargão: não há saída. Seus passos ha muito eram involuntários... Era impossível esboçar qualquer sinal de alegria ou mesmo plenitude em seu cotidiano – não havia como questionar, pois a reflexão não era presente em suas memórias, aliás, o que é memória? A teia viva não existia, o baú imaginário de lembranças insatisfatórias e felizes não fazia parte daquela vida, o vidro do antigo quarto sequer teria sido aberto se não fosse o mau cheiro. Esse é o tipo de pessoa 1, que classifica tudo como comum, natural e não consegue uma pausa dramática pra prestar atenção em sua própria respiração. Casamento, filho, carro, tradições, família, viagens, casa, decoração, plástica, cremes, vaidade, esmaltes, loções, perfumes, academia, poder, coerção. Coma isso! Beba aquilo! Como ser uma boa mãe, compre já aqui! Essa é a pausa dramática: as revistas pensam por você, afinal, aquela dúvida antiga será respondida na próxima coluna..enquanto isso, você pode resolver as cruzadinhas. O preconceito mora no pré conceito da necessidade do que você tem de ser igual ao que despreza. - não. Negação. O costume da penumbra leva os outros indivíduos a contestarem tudo o que foi citado acima. Essa convenção social que integra todos os elementos para adquirir uma vida feliz, não responde as inquietações daquelas malditas mentes. O galho involuntário da natureza morta nesse caso é a reflexão. É perigoso ser reflexivo, o confronta mento com a própria mente caminha a perplexidade. Aquela inquietação de tempos imemoriais ainda continua, mas de outra forma. A forma tornou-se aberração. A reflexão proporcionada pela exclusão das convenções sociais criou uma teia a parte: o reflexo passa pra ação. Se a liberdade entra em meus méritos, isso quer dizer que sou libertadora. Abraço o mundo então, ajudo as pessoas, as respeito, crio laços, abro espaço, amo o cansaço, digo sim, te abraço, te ajudo, sorrio, uma lagrima com você, um cigarro, uma cerveja, um afago. Um desabafo, um conselho, uma tarde em casa: pode chegar, quero te libertar. A liberdade não tem um cheiro característico, ela caminha pelas luzes tortuosas das bordas – ela preenche o frio, o vazio e até a apatia. A liberdade é inexplicável, a sensação de plenitude beira ao acaso. Os anos passaram, esse é o tipo de pessoa 2, aquela que sofre com a reflexão – alheia. O vazio de todas as outras pessoas do tipo 1 são depositados na tipo 2. A pessoa tipo 2 não consegue perceber a necessidade de livrar-se do enjaulamento subjetivo – o inconsciente faz sua parte. É claro que as pessoas do tipo 2 tem um ideal – talvez de liberdade. O ideal aproximou-se. O irreal tornou-se finalmente, palpável. --Finalmente! Pensou a pessoa tipo 2. Vou ser livre de acordo com meus ideiais de liberdade, encontrei alguém que preza pelo mesmo sentido das águas: algo que esta livre da dominação, coerção e jogos. Perigoso. O ideal anula a individualidade causando amortecimento, a liberdade tardia não faz sentido, pois ela não existe. Eu te libertei, mas não quero nada em troca porque a troca nesse momento não faz mais sentido, não faço parte da reciprocidade, pois não acredito nos valores impostos – não há alguém para dirigir a gentileza. A gentileza alheia é uma extensão dos dias arrastados pela monotonia coletiva. A insatisfação pode ser resolvida com pílulas.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

hoje é segunda?

Daqui uns dias três anos na cidade esburacada. Três anos de perreio, desgosto, tristeza, antipatia, indiferença, decepção, alegria. O copo vazio, a mente cheia. O isqueiro no final, o maço cheio. O olhar no céu, o rosto ferido. O corpo inquieto, a aparência tranqüila. A incerteza do talvez somada a certeza da dependência. Uma gata surda, uma paixão escondida. Devaneios. Muito trabalho, rotina, ônibus, cansaço. Amigos? Poucos. Sempre amortecida de álcool, sempre entupida de veneno. Intuições, pressentimentos – a luz piscou. A ponte ruiu, aquela garota..apenas sumiu. A carteira vazia, a vontade que aperta as pessoas sentadas na mesa – de novo, dependência. Um chopp, um paiero, um isqueiro, uma breja, uma dose, um devaneio... Um malboro, um isqueiro. Um casal, um fracasso – monótono. Água morna de merda, nada acontece, nada não-acontece. Um isqueiro, um Lucky strike vermelho, uma luz.  Um isqueiro, um carlton vermelho. Uma nota, um acústico - um cinzeiro. Recordo-me de agosto, mês do desgosto. Subida extensa, bicicleta dura, perna forte, cotidiano sofrido. Já é cedo, é sábado e domingo. Um isqueiro, free azul – um canto pra descansar. Falta de sono e excesso de cansaço. Um amigo, uma bicicleta, uma rua reta – uma tortinha de limão, esse é meu camarada mascarado. Pessoas amáveis, de coração grande, a mesa azul, a caixa plástica e os esmaltes duros. Um amor de inverno eterno, umas férias falidas, um emprego patético. Sofrimento, onde estão minhas roupas? Perdi minha identidade superficial, e agora? Desnudei meu rosto, armei pro lado oposto. Segui. Caixote úmido. Amigo esquisito, uno azu. Um isqueiro, malboro blue ice. Extensas reflexões sobre a rejeição, a solidão doída na alma de um solitário condicionado, o amor escorrendo pelo asfalto denunciava sua inquietação. Ele chorou como criança! Ele! Isso mesmo! Quem disse que homens não choram? Saveiro branco, devaneio pequeno, o que estou fazendo nesse bairro não habitual? Meu momento é tão pequeno que me sinto vermelha. Cabeça esquisita, mente aflita, amor descontinuo. Estou fodido. Um isqueiro, Hollywood vermelho! Caralho, estou na merda! Quero sumir dessa terra!