A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”
Sempre gostei dessa frase e da pluma poética do Milan Kundera e da Insustentável Leveza do Ser.
A reflexão existencial permite possibilidade de diálogos infinitos, seja na rua, no trabalho, em uma mesa de café – são infinitas maneiras de aproximar e criar a ponte da palavra.
Kundera diz que quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida e mais ela é real e verdadeira, porém a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe e se distancie da terra.
E então? O que escolher? O peso ou a leveza?
Na verdade, as escolhas não são duais e emergenciais, dentro da história elas vem como um processo lento e gradual.
“Nós naturalizamos o que não é natural” – disse o professor de dramaturgia quando interromperam a leitura coletiva. Em uma segunda-feira atípica espontaneamente o assunto foi retomado por uma mulher que havia estudado a naturalização da violência. Refleti tanto sobre e desde então muita coisa parece fazer mais sentido.
Por que naturalizamos piadas opressoras? Comunicação violenta? Naturalizamos sentir dor, naturalizamos o sofrimento. Calamos. Naturalizamos o incomodo alheio.
Todo mundo fica doente constantemente: tosse, cansaço, fadiga, dor de garganta, dor de cabeça, dor na lombar, dor no pescoço, etc. fora os curtos circuitos mentais.
As coisas são fragmentadas. Fragmentamos o corpo da nossa mente. É como se eles não tivessem nenhuma conexão.
Nós somos uns “passadores de pano” e não só dos outros (as), mas de nós mesmos.
Isso me faz pensar se estamos preparados (as) para os tempos de agora.
Nós somos uns “passadores de pano” e não só dos outros (as), mas de nós mesmos.
Isso me faz pensar se estamos preparados (as) para os tempos de agora.
Voltando ao Kundera e seu peso – porque nós, mulheres julgamos tanto a nós mesmas e somos condizentes com os homens? – Essa foi a pergunta da minha terapia essa semana.
Nos círculos sociais que frequento e ao longo da minha vida tive relacionamentos e presenciei relacionamentos onde não havia respeito da individualidade, não há limite para conquistar o outro, vale tudo e até mesmo sua sanidade mental.
É saber que sua razão está abafada na emoção e seguir, remando firme o barco, porque afinal, é natural a gente se sentir um pouco mal né? E depois um pouquinho mais e mais e mais e mais até que: onde sou eu e onde é o sacrifício pela felicidade do outro?
É saber que sua razão está abafada na emoção e seguir, remando firme o barco, porque afinal, é natural a gente se sentir um pouco mal né? E depois um pouquinho mais e mais e mais e mais até que: onde sou eu e onde é o sacrifício pela felicidade do outro?
Ou porque preciso satisfazer minha própria vontade ou afogar a solidão na repetição de momentos
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Não temos o agora e já queremos o depois. É o imediatismo. Tudo tem que ser resolvido rápido, o tempo natural das coisas foi esquecido (a larga escala de produção é um exemplo ótimo) – a sensação de não estar no controle dissipa viver o novo. Somos coisificados.
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Não temos o agora e já queremos o depois. É o imediatismo. Tudo tem que ser resolvido rápido, o tempo natural das coisas foi esquecido (a larga escala de produção é um exemplo ótimo) – a sensação de não estar no controle dissipa viver o novo. Somos coisificados.
Seria uma reflexão existencial? Algo que nos faça flutuar e não pender o peso da escolha na terra?
Escrevo para evitar a dor de garganta, a fadiga, o cansaço. Escrevo porque sinto algo terrível quando naturalizam coisas que não para ser naturalizadas e por um simples desejo individual de que o outro mude, perceba, há aprendizados na vida que são solitários e isso não é algo ruim.
A solidão pode ser resignificada. Talvez eu seja pragmática, talvez conservadora em alguns pontos de vista, porém gosto de me proteger com esse peso porque talvez a história tenha me feito endurecer, mas perder a ternura jamais.