Enrijeci. Há tempos essas linhas gritam dos meus dedos e
nunc consegui organizar meus pensamentos para elas pularem. Segui apaixonada
por dez anos suspirando, desejando que em algum momento as coisas naturalmente
seriam propostas. Meu ideal de amor morreu junto a essa paixão. A gente nunca
fica com nosso primeiro amor. Tenho um perfil de pessoa cuidadora. Meu coração as
vezes dói com a falta de reciprocidade, dói saber que alguém está tão machucado
nessa cidade. Te ajudo, um abraço, uma companhia, um café, uma caminhada.
Oferto. Espero? Não. Apenas oferto. Sigo pelo caminho das
árvores – se a neblina acompanhar é um caminho a desbravar. É por isso que não espero,
o ruído da cidade me deixa cansada. Um pouco estupefata. O cheiro da grama e o
encontro de luzes nas folhas sempre me atraiu mais do que palavras recheadas de
superficialidade. Desde a descoberta do meu amor pelas árvores e nuvens sinto que
me encontrei.
É claro que a ideia de estar acompanhada para descrever as
formas flerta comigo, mas também se não há, o verde da mata me basta.
Dentro de mim, sempre soube a direção, mas pela forca dos contrários
fugi.
Me casei em 2014, mas não fiz uma festa – nessas longas
caminhadas pelas diferentes paisagens refletia que meu casamento seria uma
festa singela. Nunca fui uma pessoa materialista, talvez um pouco minimalista. Me
ausentei das caminhadas.
Eu casei sozinha. É isso que penso após quase dois anos de
mulher divorciada. Matei no peito meu desejo de caminhar. Paralelo as
caminhadas, meus pés cansados e a sede eu segui, andava, andava mesmo sabendo
do meu limite. Meu casamento foi igual. Meus pés doíam, mas eu continuei porque
essa auto-exigência sempre foi primordial na minha vida. Tudo o que proponho não
posso me permitir fraquejar. Meu casamento me ensinou que posso ser forte, mas
também fraquejar. Fui invadida. A dor em grito de alerta me fez desaparecer
assim como a neblina. Racionalizei, sofri, calei, chorei quando percebi que
realmente fracassei.
Será um fracasso? Não sei. Ainda processo a ideia de destruir
para construir e daqui há algum tempo essa memória esteja esclarecida. São etapas
de superação e cura após ruptura. É um caminho árduo poder falar o que sente.
Meu reencontro com as árvores foi especial. Há sempre um
recorte natural na paisagem de concreto. A lua cheia brilha por entre os
prédios.
A solidão sempre foi minha companhia desde que me compreendo
como um ser contemplativo e reflexivo. Talvez minhas tentativas de demonstrar o
quanto posso ser companheira fosse para preencher meu vazio. Então não foi um
fracasso, apenas não havia refletido que a solidão é singular e eu tenho que
enfrentar.
Respeitar e desejar que o outro possa estar mesmo além do óbvio.
Não há como prever se as coisas podem dar certo, mas há como se auto respeitar,
limitar o que toca muito perto da sensibilidade mais profunda, da fragilidade
mais ausente, porém presente em confusão de desejos.
As caminhas, arvores, passagens e vielas são terapia
singela.