sexta-feira, 28 de setembro de 2018

brisa da árvore


Enrijeci. Há tempos essas linhas gritam dos meus dedos e nunc consegui organizar meus pensamentos para elas pularem. Segui apaixonada por dez anos suspirando, desejando que em algum momento as coisas naturalmente seriam propostas. Meu ideal de amor morreu junto a essa paixão. A gente nunca fica com nosso primeiro amor. Tenho um perfil de pessoa cuidadora. Meu coração as vezes dói com a falta de reciprocidade, dói saber que alguém está tão machucado nessa cidade. Te ajudo, um abraço, uma companhia, um café, uma caminhada.
Oferto. Espero? Não. Apenas oferto. Sigo pelo caminho das árvores – se a neblina acompanhar é um caminho a desbravar. É por isso que não espero, o ruído da cidade me deixa cansada. Um pouco estupefata. O cheiro da grama e o encontro de luzes nas folhas sempre me atraiu mais do que palavras recheadas de superficialidade. Desde a descoberta do meu amor pelas árvores e nuvens sinto que me encontrei.
É claro que a ideia de estar acompanhada para descrever as formas flerta comigo, mas também se não há, o verde da mata me basta.
Dentro de mim, sempre soube a direção, mas pela forca dos contrários fugi.
Me casei em 2014, mas não fiz uma festa – nessas longas caminhadas pelas diferentes paisagens refletia que meu casamento seria uma festa singela. Nunca fui uma pessoa materialista, talvez um pouco minimalista. Me ausentei das caminhadas.
Eu casei sozinha. É isso que penso após quase dois anos de mulher divorciada. Matei no peito meu desejo de caminhar. Paralelo as caminhadas, meus pés cansados e a sede eu segui, andava, andava mesmo sabendo do meu limite. Meu casamento foi igual. Meus pés doíam, mas eu continuei porque essa auto-exigência sempre foi primordial na minha vida. Tudo o que proponho não posso me permitir fraquejar. Meu casamento me ensinou que posso ser forte, mas também fraquejar. Fui invadida. A dor em grito de alerta me fez desaparecer assim como a neblina. Racionalizei, sofri, calei, chorei quando percebi que realmente fracassei.
Será um fracasso? Não sei. Ainda processo a ideia de destruir para construir e daqui há algum tempo essa memória esteja esclarecida. São etapas de superação e cura após ruptura. É um caminho árduo poder falar o que sente.
Meu reencontro com as árvores foi especial. Há sempre um recorte natural na paisagem de concreto. A lua cheia brilha por entre os prédios.
A solidão sempre foi minha companhia desde que me compreendo como um ser contemplativo e reflexivo. Talvez minhas tentativas de demonstrar o quanto posso ser companheira fosse para preencher meu vazio. Então não foi um fracasso, apenas não havia refletido que a solidão é singular e eu tenho que enfrentar.
Respeitar e desejar que o outro possa estar mesmo além do óbvio. Não há como prever se as coisas podem dar certo, mas há como se auto respeitar, limitar o que toca muito perto da sensibilidade mais profunda, da fragilidade mais ausente, porém presente em confusão de desejos.
As caminhas, arvores, passagens e vielas são terapia singela.